“Sonho com o dia em que todos se levantarão e compreenderão que fomos feitos para vivermos como irmãos”. A frase de Nelson Mandela remete a força, ancestralidade e muita historicidade. Retrata um sonho de centenas de anos de um povo, de uma cor e de uma luta… Estamos falando de um pedido de igualdade e propagação do amor entre todos os seres humanos independente da etnia, raça, classe social ou religião. Para falar de resistência com muito respeito, hoje homenagearemos no quadro “Personalidade de Conceição”, a feirante quilombola lá da Comunidade do Buraco em Três Barras: Eliana dos Santos Silva.
Antes de falarmos da Eliana é importante ressaltarmos que personalidade não é apenas aqueles que todos conhecem, mas os que carregam consigo histórias de superação, exemplo de vida e, sobretudo inspiração. Ao conhecerem a Eliana, vocês vão perceber que nela existe um pedacinho de cada um de nós, existem laços históricos, existe parte da cultura do Brasil. E é por isso que a consideramos uma personalidade da nossa terra.
No dia 19 de abril de 1980, um choro forte na comunidade quilombola do Buraco em Três Barras marcava a chegada da menina Eliana dos Santos – o Silva é herança do marido e só veio após o casamento. Filha dos também quilombolas Selma dos Santos e José Nobre dos Santos, Eliana teve uma infância diferenciada. Cresceu junto ao seu povo e aprendeu desde cedo o respeito ao próximo e amor incondicional a todos que a cercava.
Escutando o ditado: “Deus ajuda quem cedo madruga”, ainda na infância Eliana acordava bem cedo para ajudar no plantio das hortaliças dentro das terras da comunidade. Na adolescência, mas precisamente aos 18 anos, se casou com Claudio Cabral dos Santos Silva. “Eu tive cinco filhos: Jussara, Davi, Juscilene, Juliana e a Jucimara”, contou a mulher tímida, mas que tem firmeza na fala e no olhar.
Eliana teve poucas oportunidades de estudo e comemora o diploma no Ensino Médio dos filhos, fazendo planos para o futuro deles. “Davi, Jussara e Juliana já são formados e os outros dois ainda estudam. Tive e tenho uma vida muito difícil, eles me ajudam muito, mas desejo que possam continuar estudando e orgulhem ainda mais a nossa família”, sorriu a mãe coruja.
Atualmente, a quilombola vive na sede de Conceição do Mato Dentro, mas passou a maior parte da vida na comunidade do Buraco, onde descobriu o seu ofício como feirante do Mercado Municipal Maurílio Lages. “Lá a gente acorda e ainda é noite. Na verdade levantamos muito cedo, muito mesmo. É assim a vida na roça! Mexemos com plantio de horta e temos as nossas tarefas de casa ao longo do dia. Na sexta-feira, por exemplo, preparamos os produtos para trazer ao Mercado e passamos o dia aqui”, explicou sua rotina.
Em tempos de pandemia, Eliana conta que tem enfrentado muitos desafios, pois antes conseguia vender as verduras de folhas mais vezes durante a semana e que agora a venda está restrita somente às sextas-feiras. “Eu trazia um carrinho cheio, agora não consigo mais. A nossa realidade mudou muito, mas não posso reclamar. Deus tem suprido as nossas necessidades”.
Com falas curtas e objetivas, Eliana não quis detalhar muito sobre a sua vida, mas revela ser uma mulher muito feliz. “Sou muito grata por ser quem eu sou hoje e pelo meu trabalho. É muito gratificante plantar, colher e depois saber que os nossos produtos vão para as mesa das pessoas alimentar a elas. Dessa mesma forma, eu tiro o sustento da minha família”, comemorou a feirante.
Queríamos falar mais sobre essa mulher de poucas palavras, mas de muita ação. No entanto, nos contentamos de apresentar um pequeno fragmento da sua vida. Esposa dedicada, mãe exemplar, filha zelosa… Não com o mesmo nome, mas em Conceição tem muitas Elianas que acordam cedo e ocupam todo o tempo em prol da família, espalhando luz, gratidão e muito amor por onde passam. Sintam-se representadas!
Esta é uma singela homenagem da prefeitura de Conceição do Mato Dentro à quilombola Eliana dos Santos Silva. Desistir, JAMAIS! Resistir, SEMPRE!
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