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26 FEV 2021
CULTURA
PERSONALIDADE DE CONCEIÇÃO: DE FUNCIONÁRIO A DONO, A TRAJETÓRIA DO SEU ZÉ LAGES, 1º PRESIDENTE DA ACECMD
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CMD, SEXTA-FEIRA 26.02.2021 – Quem passa pelo Rosário e contempla o famoso prédio azul de esquina, ocupado pela tradicional Loja do Zé Lages, não sabe que esse conceicionense cheio de simplicidade, mas que mesmo aos 82 anos faz questão de se deslocar de trás do balcão para atender aos clientes sempre com muita prontidão e simpatia, está entre os empresários de maior sucesso e também tem seu legado como um dos responsáveis pelo desenvolvimento das ações que fortalecem o comércio no município. Portanto, para registrar essa história de inspiração e muita luta, hoje recebemos no quadro “Personalidade de Conceição” o Seu Zé Lages.

José dos Santos Lages, carinhosamente chamado de Seu Zé Lages, nasceu no dia 07 de janeiro de 1939, no Barro Vermelho, em Conceição do Mato Dentro. É o quinto dos oito filhos dos saudosos Sr. Boaventura Rodrigues dos Santos – Seu Ventura – e da Srª Maria Miguel Lages – Dona Maria Laginha. “Meu pai era natural do Tabuleiro, mas tinha um rancho na Piraquara onde passávamos a maior parte do tempo. Ele trabalhava com o plantio de milho, feijão, arroz e minha mãe cuidava da casa, mas também o ajudava”, relembrou Seu Zé contando que a maior diversão que tinha na infância era a pescaria no rio que passava próximo à sua casa.

“Apesar de ser da roça, meu pai escrevia bem e gostava muito de ler. Ele nos colocou na escola com o argumento de que seria importante para nós. Mesmo gostando muito de estudar foi um período custoso, pois eu saía da Piraquara e vinha a pé estudar na Escola Daniel de Carvalho. Eu caminhava sozinho uns 10 km”, recordou Seu Zé Lages. Mesmo com as dificuldades, ele diz ter sorte: “a diretora da Escola era uma senhora chamada Aracy Pedrelina de Lima, ela gostava muito das crianças e principalmente as que eram da roça como eu. Me lembro do carinho e cuidado extremo que tinha com todos nós”.

A vida do Seu Zé Lages sempre foi um desafio! Após concluir os estudos na Escola Daniel de Carvalho, o adolescente pensou que voltaria para a Piraquara e ajudaria seu pai com os trabalhos do campo, no entanto Seu Ventura deseja que o filho trilhasse um caminho diferente. “No dia que me formei no ensino fundamental meu pai me disse:’ – Já que tirou o diploma de grupo, não fique mais por aqui, arruma um serviço lá na cidade. Enxada e foice na mão de quem não tem terra não dá camisa a ninguém’. Nunca me esqueci disso!”, explicou dizendo que a maioria das pessoas da região eram analfabetas na época e seu pai considerava a formação inicial uma grande conquista.

Ouvindo os conselhos do pai, aos 13 anos o então adolescente Zé rabinho – apelido ganhado pela população por sempre pedir orientações e, às vezes, seguir as pessoas pelo medo de se perder na cidade – começou a vida na sede de Conceição do Mato Dentro. Fiquei batalhando como engraxate, procurando fazer alguma coisa e trabalhei em armazém na Bandeirinha carregando saco e pegando as coisas”.

Um dia, andando pelo Rosário, o Zé rabinho se deparou com a loja do Seu Rajão, que pertencia ao português Carlos Custódio Rajão. “Era nesse mesmo estabelecimento que estamos hoje. Cheguei aqui e perguntei ao Bento Costa Ferreira, conhecido como Bento Rajão, na época sócio do Seu Rajão, se tinham trabalho para me oferecer. Logo o Bento perguntou: ‘ – o que você sabe fazer?’. Ligeiro respondi: ‘- sei vender, quer experimentar?’. Isso era em uma sexta-feira, na segunda eu já estava trabalhando na loja”.

No dia 23 de março de 1956, Zé Lages começaria uma trajetória de muito aprendizado e sucesso, mas inimaginável para ele naquele momento. “Às 7h da manhã eu estava na porta aguardando ao Bento. Quando ele chegou começou a me passar as instruções que carrego comigo até hoje. Ele me ensinou a cumprimentar a todos com bom dia, boa tarde, boa noite, sorrir para as pessoas e sempre perguntar o que desejavam. Comecei fazendo a limpeza e organizando tudo e aos poucos já estava vendendo”, se alegrou ao regressar ao passado.

Mesmo satisfeito e grato com o que tinha, mais uma vez a vida impôs um desafio a Zé Lages. Quando ele completou 17 anos, recebeu um telefonema de um dos seus irmãos que estava na capital o convidando para trabalhar na mesma firma que trabalhava. “Ele me disse que estava lá como servente de obras, mas que eu trabalharia dentro do escritório e que inclusive já havia conversado com seu chefe. Insistiu que seria melhor para mim e que poderia ganhar mais”, explicou admitindo que a proposta o deixou balançado.

No dia seguinte, Zé Lages procurou Seu Rajão para agradecê-lo pela oportunidade e comunicar sobre a saída da loja. “Expliquei a ele sobre a proposta do meu irmão e que naquele momento seria melhor para o meu futuro. O que eu não esperava é que o Seu Rajão teria uma contraproposta que mudaria a minha vida. Com seu jeito de português, ele me ofereceu sociedade, fiquei muito confuso, pois eu não tinha capital”, exclamou surpreso! No entanto, o proprietário da loja disse que Zé Lages estava enganado. “Ele falou que eu entraria com o capital melhor do que o dele, o meu trabalho. E completou: ‘- trabalho com dedicação igual você faz é um capital valioso. O meu capital a qualquer momento pode acabar, mas o seu capital não acaba não’”.

Uma semana depois, aos 17 anos de idade, Zé Lages se tornava sócio da Loja Rajão. “Ele chegou com o documento em que me colocava como sócio a partir do dia 1º de julho de 1960. No espaço do capital inicial estava escrito: trabalho (valendo 3 mil cruzeiros). Então Seu Rajão ponderou: ‘- leia e veja se está bom para você’. Eu li e assinei depressa, na época ele fazia parte da Associação Comercial de Minas e mandou registrar tudo direitinho. Naquele momento só passava pela minha cabeça: ‘- estou ficando importante’”, gargalhou pontuando que o Bento Ferreira havia desfeito a sociedade com Seu Rajão há algum tempo para cuidar dos próprios negócios.

Um ano depois como sócio, Zé Lages percebeu que havia feito a escolha certa. As expressões mudaram, antes recebia salário, depois passou a fazer retiradas e no fim do ano começo a contar com participação nos lucros. “Após um ano de sociedade o Seu Rajão me chamou e disse que pelo meu esforço eu assumiria a responsabilidade das compras. Virei o comprador oficial e passei a viajar para Belo Horizonte mesmo sem conhecer direito. Aos poucos fui adquirindo experiência”.

O rapaz bem-sucedido e de encantadores olhos azuis despertava o interesse das moças da cidade, mas apenas uma conseguiu fisgar seu coração. Em 1966, Zé Lages se casou com Geralda das Mercês Souza, tiveram 5 filhos e já celebraram 52 anos de matrimônio. “Me casei depois de 10 anos que estava na loja. No início fomos morar na Bandeirinha, com o tempo viemos para o Rosário”.

Com a loja que funcionava como nos dias de hoje, mas tinha como forte a venda de tecidos, em alta, Zé Lages foi golpeado pela doença do Seu Rajão que era muito mais que um sócio, mas um verdadeiro amigo. “Eu trabalhei com ele durante 32 anos e quando estava perto de falecer me deixou muito emocionado. Fui visitá-lo em Belo Horizonte e já estava muito doente. Fiquei na porta do quarto e seis dos seus filhos muito bem-sucedidos como médico, dentista, advogado entre outros, estavam com ele. Mas me chamou para entrar e me colocou na cabeceira da cama, ao seu lado”, se emocionou.

“Seu Rajão disse: ‘- Já sei que vou morrer e eu morrendo, vocês não vão entrar naquela loja mais não. Quem vai cuidar de tudo será o Zé’. Dois meses depois, infelizmente ele faleceu. O Dr. Osmar Rajão, seu filho, que inclusive foi prefeito de Conceição me ligou e ordenou: ‘- olha Zé, a palavra do meu pai está valendo, cuide de todo para nós. Não nos envolveremos com os negócios da loja’”, revelou Seu Zé Lages contanto que todos os anos fazia o balanço e prestava contas à família, porém, em 1991 eles optaram por vender a parte que tinham, fazendo surgir a Loja do Zé Lages.

Com o coração grato, Seu Zé Lages conta que o convívio diário com Seu Rajão contribuiu muito para o seu aprendizado, crescimento pessoal e profissional. “Eu via que ele recebia as correspondências de BH, ele lia tudo e passava pra mim. Eu aprendia muito, ele nunca foi egoísta. Tudo que eu li tirei proveito e com essa base em 91 conversando com os comerciantes, fundamos a Associação Comercial de Conceição do Mato Dentro. Éramos em torno de 18 pessoas e eles me deram a missão de ser o primeiro presidente, não tínhamos a mínima noção e precisei batalhar muito. Até os estatutos tivemos dificuldades para criar, mas conseguimos a cooperação da FEDERAMINAS que nos auxiliou muito”, contou o primeiro presidente da ACECMD que ocupou o cargo por 8 anos.

Nesse período Seu Zé Lages conta que fez amizades valorosas, entre elas, a do ex vice-presidente da república José de Alencar. “Conheci o Zé Alencar, ele virou pra mim com aquele jeito falastrão e disse que nós tínhamos muito em comum. Que também começou no interior e que aos 14 anos já trabalhava no comércio e jogava futebol de pé no chão porque não podia comprar chuteiras. Ele se tornou meu amigo, almoçamos várias vezes juntos. Inclusive, votei nele cinco vezes: votei para ser candidato a governador (era presidente do diretório do então PMDB em Conceição) e ele ganhou. Votei nele para governador e lamentavelmente não foi eleito. Depois para ser senador e duas vezes para vice-presidente da república. Apesar de não ser petista, votei nele (risos)”, brincou ao relembrar do amigo.

Seu Zé Lages se considera uma pessoa feliz e diz que a vida é um eterno aprendizado. “Estou aqui há 64 anos aprendendo, entrei para aprender e continuo aprendendo, mas só sei que nada sei. Como canta Roberto Carlos, ‘quem nada sabe, sabe muito mais do que eu’. Continuo aqui no meu cantinho. Sou uma pessoa feliz! Comecei semi-analfabeto, consegui conquistar tudo que eu desejava. Consegui que todos os meus cinco filhos com muito esforço, trabalho e honestidade tivessem um curso universitário e seguissem suas vidas com dignidade. Só tenho motivos para sorrir”, finalizou o dono da Loja Zé Lages, nosso querido Seu Zé Lages.

Essa é uma singela homenagem da Prefeitura de Conceição do Mato Dentro ao Seu Zé Lages, uma das maiores influências do comércio e grande responsável por várias conquistas do setor no município.

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Fonte: Assessoria de Comunicação
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