CMD, SEXTA-FEIRA 29.01.2021 – José Geraldo Ângelo Filho! Quem é esse conceicionense? “Até eu tenho dificuldades em falar o meu verdadeiro nome, não me acostumo de jeito nenhum. É uma coisa louca, mas não me conecto com esse nome”, disse gargalhando. Estamos falando do Todinho, quem diria que ele tem esse nome forte? Pois tem, mas como puderam ver, não gosta. É Todinho e ponto!
Para se lembrar do Todinho, os adultos podem fechar os olhos e voltar ao passado, que logo virá aos ouvidos a recordação da voz potente que ecoava pelas ondas da Rádio Bom Jesus nos programas memoráveis que apresentou por lá. Os mais jovens podem até não conhecê-lo pessoalmente, mas já devem ter escutado suas locuções nas festas da cidade ou comunicados institucionais. Por isso, não poderíamos deixar de homenagear no quadro “Personalidade Conceicionense”, o dono da voz que faz parte do nosso passado e presente, a voz de Conceição!
José Geraldo Ângelo Filho, aliás, o Todinho, nasceu no dia 12 de abril de 1957, em Conceição do Mato Dentro. É o segundo filho do Sr. José Ângelo Filho (o famoso Sim Senhor) – in memoriam – e da Dona Maria das Dores Ferreira (Maria Rosa). “Eu sou de Conceição, tenho orgulho em contar que nasci no Hospital Imaculada Conceição com o auxílio da parteira Dona Ziquinha”, relembrou acrescentando que teve uma infância difícil pela ausência do pai que abandonou a família logo quando ele nasceu.
Dona Maria Rosa era cozinheira no Colégio São Joaquim e a infância de Todinho foi toda dentro da instituição de ensino junto às Irmãs Clarissas Franciscanas, inclusive uma de suas travessuras de menino com as freiras lhe rendeu seu apelido. “Onde hoje é a rádio era a adega da escola, eu sempre pedia às freiras um todinho, eu adorava. Elas me davam e diziam: ‘lá vem o todinho’, e o apelido pegou”, compartilhou o queridinho pelas Irmãs Clarissas Franciscanas daquele período.
Como todo garoto, Todinho adorava brincar, mas enquanto os meninos da sua idade jogavam futebol, jogos de tabuleiro e outras brincadeiras daquela época, ele já sonhava em ser locutor de rádio. “Eu pedia para minha mãe as latinhas de extrato de tomate e fazia delas meus microfones. Passava horas brincando de ser locutor, impostando a voz e fingindo que estava conversando com meus ouvintes”, disse o dono da voz de ouro.
Os anos se passaram e Todinho ingressou no Colégio São Francisco. “Estudei lá porque eu era atrevido. Tratava-se de uma escola para meninos da alta sociedade e as condições da minha mãe não nos permitiam pagar a mensalidade. Consegui uma bolsa de estudo e me formei lá com louvor”, comemorou contando que também estudou na Escola Técnica de Comércio Conceicionense, onde era diretor o saudoso João Fernandes Lima, o professor João Lima.
Grato ao Bom Jesus, ainda na adolescência se tornou voluntário do Santuário, oferendo como oferta a sua voz para as locuções da igreja, incluindo o Jubileu e as demais celebrações. “Sabe aquela música que toca no anúncio de óbito do Bom Jesus? Chama-se “Se dos Lírios”, eu quem coloquei na época que fazia as locuções. A curiosidade é que a letra não tem nada a ver com morte, a letra é belíssima. Eu coloquei e permanece até os dias de hoje. Basta tocar o coro que todos já sabem que algum conceicionense infelizmente faleceu”, explicou o locutor em tom de respeito.
Por volta dos 18 anos, o dono da voz potente começou a trabalhar na Prefeitura de Conceição do Mato Dentro prestando serviços para a junta Militar. “Continuo até hoje com muita honra realizando o alistamento dos jovens, entre outras atividades. Recordo-me de um momento muito emocionante que o trabalho me proporcionou, recebi uma homenagem do exército pelos serviços prestados”, se orgulhou o conceicionense.
Mesmo satisfeito como servidor, a vontade de ser locutor era latente em seu peito. “Eu conciliava tudo e nunca parei com as locuções. Além de contribuir com a igreja, comecei a fazer locução virando noites em festas, casamentos, em eventos públicos e até em comícios políticos”, comentou completando que foi o responsável por criar um famoso jargão na cidade. “Quando o Zé Fernando foi candidato a prefeito pela primeira vez, ele estava chegando na festa do Forró do Campo e eu falei: ‘Cutuca Zé Fernando, por dias melhores em Conceição’. Não é que pegou?”, indagou vaidoso.
Além de um exímio locutor, a voz diferenciada de Todinho também apareceu em forma de canto em Conceição e na região junto ao Grupo de Seresta do Teiado. “Modéstia à parte, sou um excelente cantor (risos). Viajei muito com o grupo que era composto pelo Teiado, Seu José da Carola, Antônio Bruno, Nô Dias e Lúcio Pintor. Participamos de vários festivais, tocamos para o então prefeito de BH Sérgio Ferrara, para o José Aparecido de Oliveira e personalidades que ele trazia como: o cartunista Ziraldo, o político Leonel Brizola, o ex-presidente de Portugal Mário Soares, o paisagista Roberto Burle Marx, entre outros nomes”.
O sonho de menino em trabalhar com rádio permanecia vivo em Todinho. Até que um dia, José Aparecido criou a Rádio Bom Jesus. “Começamos com um período experimental e pouco tempo depois, quebrou-se a barreira do silêncio com a primeira emissora de rádio de Conceição e região, a frequência era 103 FM”.
Realizado e trabalhando na rádio, o locutor se permitiu conhecer a conceicionense Celeste. Casaram-se e tiveram seis filhos: Saulo, Samuel, Samarone, Salatiel e os gêmeos Sandro e Sávio. “Minha família é tudo para mim”, enfatizou. Mesmo casado, Todinho seguiu trabalhando na Prefeitura e na rádio por quase duas décadas.
“Em todos os programas eu falava com os ouvintes, não somente de Conceição, mas de toda a região. Fazia também as reportagens da rádio, era um barato. Entrevistei Hélio Costa, Nando Reis, Elba Ramalho, Sandra de Sá, Sérgio Reis, Almir Sater e muitos outros. Conheci Fernanda Montenegro, Grande Otelo, Erasmo Carlos, Fafá de Belém, Vander Lee, Ana Carolina e tanta gente que levaria o dia todo para contar. Eu tomei cachaça com sorvete com a saudosa Cássia Heller, nós demos muitas risadas juntos”.
Todinho brinca com a forma como as ouvintes imaginavam sua aparência e as cartas apaixonadas que chegavam. “Eu recebia cartas de umas garotas de Diamantina, elas me pintavam como um deus grego, louro e de olhos azuis. Não podia mentir para elas e resolvi responder à carta. Escrevi: ‘queridas, sou completamente diferente do que vocês imaginam. Meus cabelos estão louros porque eu pintei, os meus olhos estão azuis porque uso lentes de contato e quanto a minha cor, eu sou aquele pãozinho que ficou no forno por mais de 48h. Sou uma lasca de um negão’”, deu risada.
“Até hoje, na Cavalgada, por exemplo, as pessoas me trazem presentes, me pedem autógrafo e eu fico sem graça, mas muito lisonjeado”, confidenciou. “Tudo isso eu devo ao saudoso Zé Aparecido, que me deu essa oportunidade”.
Sem dúvidas, José Geraldo Ângelo Filho, o nosso eterno Todinho merece a nossa admiração por sua história, contribuições como servidor e por continuar nos presenteando com a sua preciosa voz nos eventos do município, enaltecendo a cultura local e regional.
Lembrem-se: “pode, tá pudido”, “Gira Lindomar”, “tá bão, fi?”, “tampô tá cuzido, distampô tá cumido”, “angu e torresmo o gosto é o mesmo”…
Essa é uma singela homenagem da Prefeitura de Conceição do Mato Dentro ao conceicionense Todinho, a voz de Conceição!
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