Uma lenda conta que tendo a Mesa da Irmandade contratado os serviços de um célebre pintor português, que viera expressamente da Corte, no intuito de efetuar as obras de pintura da Igreja de Bom Jesus, em Conceição, aconteceu que o artista tardasse demasiadamente em iniciar o trabalho encomendado. Quando lhe perguntavam pelo motivo da demora, respondia com enleio e visível vexame, que não havia ainda, definitivamente, assentado no que devia representar nos diversos painéis, nem sequer no plano geral da obra, coisa que o aborrecia profundamente, por estar meditando desde que ali chegara. Com o pensamento fixo naquele intento que constantemente lhe roubava o sono, já havia o pobre homem delineado e destruído vários projetos, quando, uma noite, em hora adiantada, no momento em que estudava o melindroso assunto, ouviu bater suavemente à porta.
Abrindo-a de pronto, à luz clara da candeia que levava em uma das mãos, apareceu-lhe um frade franciscano, ainda moço e de aspecto extremamente dócil; pediu-lhe agasalho por aquela noite, avisando-o de que precisava sair cedo e que dispensava a ceia ou outra qualquer espécie de refeição. O pintor muito generoso, convidou gentilmente o capuchinho para seu hóspede. Depois de breve palestra, reparando o frade no que observava sobre uma mesa disse para o pintor: – “ Apesar de não me dizer, sei que vossemecê veio a este lugar a convite da Irmandade do Senhor Bom Jesus de Matozinhos, afim de pintar a Igreja por ela edificada em um dos sítios mais pitorescos do arraial. Sei, também que ainda não assentou o plano que deva definitivamente adotar a seguir na execução da obra. No intento de auxiliá-lo, trouxe comigo nestas folhas de papel( e as foi desenrolando sobre a mesa)uns debuxos, aos quais entendo que se poderá cingir, certo de ficar satisfeito e de ser bem sucedido na empresa”. Examinando atentamente os papeis e o risco delineado, não hesitou o pintor em responder ao hóspede que aceitava, prazerosamente, o plano que lhe era tão oportuno e providencialmente oferecido, agradecendo ao mesmo tempo, o ótimo serviço que o bom religioso lhe acabara de prestar. Conversaram ainda por algum tempo e como já se fazia tarde, despediram-se, indo cada um para os seus respectivos aposentos.
Ao romper do dia, levantou-se o pintor para acordar o piedoso frade, conforme o aviso que lhe fizera na véspera e qual, porém, não foi a sua surpresa, quando, depois de entrar no quarto onde pernoitara o hóspede, encontrou-o vazio, os móveis sem alteração alguma e a cama intacta como dantes a deixara feita. -“ Dar-se-á acaso- disse a meia voz- que tenha madrugado mais do que eu? “Assim perplexo, dirigiu-se para a porta da rua e, então, ficou estupefato, ao verificar que se achava fechada por dentro, bem assim as janelas. Quanto a sua identidade pessoal, não houve dúvidas. Todos compreenderam e acreditaram que o aparecido, por permissão e particular designo de Deus, outro não era, senão Santo Antônio de Pádua.
PREFEITURA DE CMD
JUNTOS POR UM NOVO TEMPO